Polarização: não há remédio para eleitores apaixonados

     Nos últimos dias, dois casos de violência evidenciaram a fase bizarra pela qual passa o país. A deputada pesselista Joice Hasselmann publicou nas redes vídeo do rosto todo marcado em razão de agressão, que ela afirma ter sido feito feita por encomenda, depois de receber ameaças. A deputada estava em Brasília, num apartamento funcional, pago com o dinheiro do contribuinte. A história é bastante controversa porque ela demorou dias até decidir ir para o hospital. O marido de Joice, que dormia num quarto ao lado, não teria ouvido nada. A polícia disse que não há imagens anormais no circuito interno de TV do condomínio. Joice insiste que havia uma terceira pessoa no local. O marido disse em entrevista que “jamais” faria algo assim.

 

    Em Curitiba, o vereador petista Renato Freitas foi imobilizado por guardas municipais, na rua, enquanto convocava pessoas para o protesto contra o governo Bolsonaro. A imagem mostra 6 homens da GCM no ato. Renato já está no chão e um dos guardas segura a cabeça dele; essa foi a cena que mais chamou minha atenção. Os guardas são pagos com o dinheiro do contribuinte. O cidadão Reinaldo Machado disse ter sido agredido pelo vereador, quando estava indo ao banco e tentara interferir numa discussão entre Freitas e uma senhora. A GCM de Curitiba disse que o vereador se negou a acompanhar os guardas e foi preso por esse motivo. 

    

    O vereador e a deputada sofreram ataques pesados nas redes, mesmo estando claro nas imagens que eles sofreram violência, que em algum momento foram vítimas de forte abuso. O tom é de linchamento em alguns comentários. Lincha-se porque um é do PT e porque a outra foi antipetista e hoje é antibolsonarista, como se a identidade política de alguém pudesse justificar violência. Sintoma da doença da polarização.

    

    Todas as versões devem ser acompanhadas e investigadas para esclarecer os dois casos. Um homem e uma mulher que possuem mandatos públicos protagonizaram cenas de violência. Além de terem em comum o fato de serem pagos com dinheiro público, Joice e Freitas são contrários ao governo atual de Jair Bolsonaro. Os dois acontecimentos reforçam o fato de que o Brasil é um local onde os cidadãos estão vulneráveis tanto em casa quanto na rua. As imagens que acompanham as duas notícias revelam que nenhum lugar é seguro, seja você o homem que vai ao banco, como Reinaldo, seja você um vereador em início de carreira como Renato, ou uma deputada de fama nacional como Joice.

 

    Não há limites para a violência, seja ela doméstica, policial ou supostamente cometida por um vereador, como alega o cidadão Reinaldo (ele afirma ter sido agredido por Freitas). Os espinhos estão cada vez mais encrespados, a ansiedade é a imperatriz no reino de consumidores de notícias verdadeiras, de fake news, de grupos de Telegram ou WhatsApp. Não importa se você toma cloroquina ou tubaína, como quer dividir o presidente Bolsonaro, pois todos estão ansiosos e um dos motivos é saber quem governará a partir de 2022. O fato é que violência verbal ou física não fará o país um lugar melhor para se viver, seja você do bolsonarismo ou do lulismo.

 

    A violência sofrida por Joice e Freitas mostra um lado do Brasil que é inviável tanto em casa quanto na rua.

 

    Por mais que a palavra caos seja imperativa, sabemos que o atual governo provoca a população. Como se fosse seu método, tenta jogar todos contra todos, veja as cisões dentro de seu próprio governo, os aliados que ele transformou em inimigos, nesses últimos dois anos: Gustavo Bebianno, Sérgio Moro, a própria Joice, Alexandre Frota, general Santos Cruz, etc. O clima não se instalou sozinho e não é responsabilidade apenas de Bolsonaro. Lula também falava de uma divisão entre "nós e eles", Bolsonaro aumentou a temperatura.

 

    Caos ou método, não adianta diagnosticar, pois eleitores apaixonados não querem remediar, querem que vença o seu candidato. 

Comentários

Postar um comentário