Setembro: um pouco de política nos domingos e feriados na avenida Paulista

    Os dias 12 e 7 de setembro de 2021 foram usados por brasileiros de diferentes espectros políticos para manifestarem seus desejos na avenida Paulista, em São Paulo.

    Um ponto positivo ao ver a avenida como palco de manifestações pacíficas dos matizes mais diferentes é concluir, à primeira vista, que a segurança de quem quer se expressar ainda está a salvo no país. Por quanto tempo é o que temos que perguntar, já que no dia 7 de setembro alguns presentes pediam intervenção militar, golpe, destituição de membros do STF_sem haver condenação que se conheça contra nenhum deles. Esses pedidos antidemocráticos são baseados no clima de guerra que Bolsonaro conseguiu instalar no país. Com seu discurso agressivo e superficial, ele despertou a raiva que se manifesta na avenida. Essa raiva não consulta as leis e ignora os códigos e a lógica. Exemplo de quando voto e política são dominados pelo extremo da emoção.

    O dia 7 de Setembro de 2021 teve pelo menos duas utilidades: Bolsonaro grunhir para seu público e desacatar o ministro do STF, Alexandre de Moraes. A outra utilidade, típica das imprecisões do Brasil, reparem, foi Bolsonaro engolir o grunhido e elogiar o mesmo ministro Alexandre de Moraes. Agradou seus eleitores para, em seguida, enfurecê-los numa típica reviravolta (plot twist) de séries da Netflix. 

    O preço pago pelo presidente por mostrar os dentes e ajoelhar, na mesma semana, é o de não convencer em nenhum dos papéis. Como golpista, não consegue avançar além das ameaças_ainda assim nocivas por tensionarem o mercado, desacreditarem investidores e macularem a imagem do Brasil no exterior. Como retrocedente, não consegue convencer que joga dentro das quatro linhas, pois seus adversários nada tem de ingênuos. E diminui ainda mais seu tamanho porque a eficiência de um presidente da República não se mede pela resolução de crises criadas por ele mesmo. Mais uma prova, desnecessária em meio a tantas outras, de que não está à altura da confiança de 57 milhões de brasileiros que votaram em um Bolsonaro anticorrupção, mas que já tinha as rachadinhas, as transações suspeitas de compras de imóveis no seu passado.

Enquanto agonizo

    O país está refém de um presidente que oscila entre dois papéis, mas sem desempenhar nenhum. Não consegue ser presidente porque além de incompetente, se perdeu em meio aos objetivos antidemocráticos. E, para nossa sorte, não consegue dar o golpe porque está preso aos titubeantes limites impostos pelas instituições. É um zumbi cambaleante que segue assustando a democracia. Para falar com sua base extremista, esquece da imensidão do Brasil. É como se ele ainda acreditasse que todos se contentam com seus shows e gritinhos com palavrão no final das frases.

    A terceira via, enquanto não se fortalece, pode deixar esquecido o refém Brasil por muito mais tempo, além de 2022, enquanto a população agoniza para comprar a gasolina, carne e arroz, como se fossem só essas as necessidades. Durante a permanência entre a polarização petista e bolsonarista, o país avançará muito pouco em razão do debate que fica congelado.

O matiz do Impeachment

    O dia 12 de setembro também foi protagonizado por manifestantes na Paulista. Alguns deles me disseram que estavam ali pela democracia, pelo direito de não terem suas bocas amordaçadas pelo que chamaram de censura da família Bolsonaro. O MBL tentou aglutinar matizes na avenida, mas não foi muito bem sucedido e o dia 12 de Setembro serviu também para mostrar que o movimento perdeu em força e potência de mobilização, antes grandiosas. O fora Bolsonaro do domingo (12) serviu ainda para dar voz à ex-bolsonaristas que agora repelem Bolsonaro. 

    O sentimento se justifica, dizem eles, por terem confiado no candidato Bolsonaro que se apresentava como inimigo da corrupção, tendo a seu lado Sérgio Moro. Mas tiveram que engolir o Bolsonaro presidente, esse com os escândalos de rachadinha, suspeita de prevaricação, além da desumana e desastrosa gestão da pandemia. Motivos também citados pelos que pediam seu impeachment.

    Se repelem o que antes alguns chamavam de mito, são eleitores que também rejeitam o candidato detentor das maiores intenções de voto nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva. Mas eles ainda não conseguem deixar claro que grupo político ou candidato representariam de verdade os ideais anticorrupção achincalhados por Bolsonaro. 

    Uma das perguntas que esse domingo provoca é saber em quem esses eleitores vão confiar em 2022. 

    A sensação, conversando com alguns deles, é que a decepção com Bolsonaro não será facilmente transformada em voto petista. Em pontos diferentes da Paulista, Verena e Lázaro dizem anular seus votos, se o segundo turno ficar entre Lula e Bolsonaro, na próxima eleição. Sobre a terceira via dizem não confiar no surgimento de um candidato competitivo. Parca herança da política recente para um jovem de 20 e poucos anos e uma mulher que foi adolescente durante a ditadura militar.       

    Outro ponto positivo dos dias politizados de setembro na Paulista é conversar com Verena e Lázaro e testemunhar que representantes de duas gerações continuam em busca de uma política maior e melhor do que a que herdaram.


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