Valeu a pena, Queiroz?

    Enquanto a família se diverte na nova mansão, provoca opositores com o mal uso da Lei de Segurança Nacional, tergiversa ao falar da rachadinha e do caos em que se encontra o país, Fabrício Queiroz está em casa, esperando ansioso o desfecho de sua situação, após a avassaladora exposição dele e de sua família. Suas filhas e sua esposa Márcia também tiveram seus rostos e histórias ligados ao caso do crime de peculato no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador. 

    As biografias da família Queiroz estarão relacionadas para sempre ao reprovável e indigno hábito de recolher salários como fantasmas submissos para devolver a verba ao patrão poderoso. É dinheiro público que teve destinação errada, saído do bolso da população. Ainda que seja comum, praticado por tantos outros políticos, é crime e não será esquecido enquanto o capitão for presidente, provavelmente depois de sua saída do Planalto vai continuar sendo notícia.

    Em declarações sobre o caso, Bolsonaro pai cita a amizade de décadas com Queiroz, o ajudante também fala do amigo poderoso e da longa relação dos dois. 

    O mimimi parece ter a função de amenizar, suavizar os incontáveis saques de Queiroz para pagar as contas da família em dinheiro vivo, como se fosse coisa de amigo, corriqueira, aceitável. Mas não é. Tanto o velho escoteiro quanto os Bolsonaros, além dos procuradores do Ministério Público sabem que a prática sugere enriquecimento ilícito, tem tipificação e pena definidas. 

    Quando são feitas perguntas ao presidente sobre os 89 mil reais na conta de Michelle Bolsonaro, sobre a vacina, sobre os pagamentos feitos por Queiroz, Jair ataca, menciona a mãe alheia e ofende o perguntador, termina a entrevista, faz bullying com os jornalistas e consegue se livrar do constrangimento inegável, momentaneamente.

    Mas, os problemas continuam depois da entrevista encerrada, da fala grosseira, do verbo rosnado, como se fosse fácil apagar o passado de atos condenáveis, simples como chutar para longe um pequi roído. Mas não é: o Ministério Público não deixa de existir, nem os registros das centenas de saques de Queiroz em caixas eletrônicos. 

    E como estão as consciências de Queiroz, de suas filhas e esposa? Que perguntas eles fazem a si mesmos antes de dormir? Que respostas gostariam de obter? Como seriam respondidos e o que ouviriam do capitão-presidente, que mora no Palácio, se fizessem perguntas sobre suas vidas, seus destinos, seus futuros daqui a dois ou três anos? Como o capitão responderia ao seu amigo fraterno? Da mesma forma escorregadia que responde aos eleitores e ao Brasil quanto ao futuro e sobrevivência do país e dos brasileiros que morrem sem vacina?

    Será que Queiroz já sabe se o envolvimento e a dedicação à presidenciável família Bolsonaro valeu a pena. Valeu, Queiroz?

    A Justiça brasileira precisa responder clara e rapidamente a essa pergunta. O Brasil precisa saber se compensa.

  

https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/03/15/quebra-de-sigilos-do-caso-flvio-mostra-indcios-de-rachadinha-em-gabinete-de-jair-bolsonaro-diz-site.ghtml

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Comentários